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O XADREZ DA VACINA

Foto do escritor: Caroline Carvalho SilvaCaroline Carvalho Silva

Trocas de farpas, negação à gravidade da pandemia e inação marcam a negociação de vacinas



No atípico 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciava que a epidemia do novo coronavírus havia tomado proporções suficientemente grandes para ser chamada de pandemia. A forma como o governo federal escolheu lidar com a doença desconhecida nos levou ao segundo posto no ranking dos países com mais casos confirmados por dia, segundo dados fornecidos pelo site da OMS, no dia 09 de março de 2021. A principal estratégia adotada pelo país, como os discursos proferidos pelo presidente e seus apoiadores deixam transparecer, foi a intenção da arriscada tentativa de imunização de rebanho.

É comum pensar a política doméstica e a política externa separadamente. Entretanto, o que a pandemia de covid-19 vem nos mostrando é que a maneira com que o Brasil se relaciona com outros países no plano internacional impacta diretamente a rotina de cada um.

É inegável, o contexto das Relações Exteriores está intrinsecamente ligado à imagem do chefe de Estado. “Essa política externa representa hoje uma brutal ruptura com o patrimônio diplomático acumulado ao longo de mais de setenta anos”, opina o embaixador Roberto Abdenur, em webinar realizado pela ADB Sindical em junho de 2020.



Trocas de farpas, negação à gravidade da pandemia, inação em relação ao assunto, desconsideração das recomendações da OMS e do Ministério da Saúde, os inúmeros tweets e falas inconsequentes de figuras importantes, levam o Brasil ao isolamento, a uma crescente perda de credibilidade, respeitabilidade e capacidade de liderança no plano internacional.

O Brasil, que por décadas manteve um bom histórico de cooperação internacional, não soube aproveitar suas habilidades com o multilateralismo para aquisição de vacinas contra a covid-19. Preferiu apostar em relações personalizadas e não investiu em outras fabricantes, para assim, ter à disposição uma maior variedade de imunizantes. Agora, encontra-se dependente especialmente de Pequim e Nova Delhi.

Além dessa dependência e da disponibilidade limitada de vacinas, foi constantemente relatado na imprensa nacional o desperdício de doses. Isso ocorre justamente pela falta de orientação aos profissionais de saúde e pela ausência de um planejamento estratégico detalhado de vacinação, realizado somente após pressão do Supremo Tribunal Federal sobre o Governo.

O desgaste diplomático que o Brasil cria nas relações com a China contribui para o aumento de casos fatais da doença no território brasileiro, visto que a falta de insumos para a vacina causa a não imunização, expondo, assim, pessoas ao risco de contágio por covid-19.

Essa postura agressiva e deselegante do governo brasileiro no cenário internacional destrói o soft power e as boas relações que o Brasil construiu por décadas.

As hostilidades brasileiras contra seu maior parceiro comercial ocorrem há mais de dois anos e vêm de pessoas importantes do governo. Por exemplo, Abraham Weintraub, ex-ministro da educação, em seu post racista no Twitter, publicado em abril de 2020, acusava o país asiático de planejar dominar o mundo e satirizava o sotaque chinês. Ademais, há também os ataques do deputado federal Eduardo Bolsonaro ao governo daquele país, em duas ocasiões: uma contra a gestão da pandemia e a outra, ao 5G.

Essa postura agressiva e deselegante do governo brasileiro no cenário internacional destrói o soft power e as boas relações que o Brasil construiu por décadas. Transforma o país em pária mundial, deixando-o isolado e sem credibilidade. Provoca a morte de milhares de pessoas. Os diplomatas brasileiros terão, pelos próximos anos, um árduo trabalho: recuperar o prestígio e a imagem que o país vem perdendo.


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